Elogio da banalidade

11-11-2011 18:42

 

Fonte:  Jornal Noticia
Por:  Catarina Carvalho

O Casamento Real

E o Mundo voltou a parar para ver mais um casamento real. O da década - talvez do século. A mostrar que o que fica do que passa são os mesmos sentimentos de sempre, humanos, talvez até demasiado humanos. O que faz a intemporalidade das fábulas é o mesmo que fez deste casamento de Kate e William de Inglaterra um enorme sucesso mediático e planetário. A procura incessante da felicidade. Todos estamos sempre à espera que a história da Cinderela aconteça nas nossas vidas - seja no amor ou nos negócios.

Rezam as estimativas que, apesar da semana com feriado, por causa do casamento, ter custado 50 mil milhões de libras ao PIB, os 600 mil visitantes que Inglaterra acolheu, mais os activos que se geraram com as vendas de souvenirs devem ter compensado - e ajudado - a deprimida e estagnada economia britânica, cujo Governo de Direita está a tentar transformar com os maiores cortes de sempre do sector público. Muitos dos que na rua celebravam viram, no último ano, os seus ordenados diminuir, os seus impostos aumentarem, as escolas dos seus filhos perderem subsídios. E ali estavam eles, de Union Jack na mão, acenando como se não houvesse amanhã.

Isso é um sinal da importância deste casamento real. Uma importância simbólica, e determinante. Para Inglaterra e para a economia, na medida em que é sempre precisa uma dose de patriotismo para aguentar os tempos difíceis como os que os britânicos estão a passar. E foi patriotismo o que inspirou este momento. 'Touché' à coroa inglesa, que tudo apostou no enlace, e se colocou, assim, mais uma vez, ao serviço da sua pátria - é também para isso que serve uma família real, pelo menos nos tempos que correm.

Resta dizer que a coroa também apostou tudo neste casamento por interesse próprio. Nele se joga a sua reinvenção e sua própria sobrevivência. Fartos de aturar os dramalhões da geração Carlos e Diana, os britânicos começam a questionar o interesse de ter uma coroa. Ainda por cima muito dispendiosa. Dar-lhe um tom folclórico e de atracção turística, talvez já não chegue. É preciso que se volte a tornar confiável.

E foi isso que fez este casamento. Um vestido banal, dois jovens banais, uma história de amor banal. Era assim que a coroa precisava que fosse, e assim foi. Acrescenta o facto de Kate ser, de facto, uma plebeia - um sinal de modernidade aparente, mas também real. Uma relação trazida para dentro do palácio pela vida real. E até as árvores verdadeiras na abadia de Westminster contribuíram para dar um ar de "Life... as usual" ao casamento. A vida como ela é. Não as crises mediáticas de Carlos e Diana. Nem as tontarias de Sarah Ferguson - que, aliás, nem foi convidada. Esqueçam isso tudo - pareciam gritar as trombetas.

Diana estava lá, mas na medida certa. No primeiro hino tocado, que foi o último do seu funeral, não por acaso na mesma igreja, Elton John em lugar de destaque, o irmão Spencer sentado junto da família de Kate, a irmã com os brincos que ela usou no dia do seu casamento - o anel azul de noivado da sogra na mão da noiva. Pequenos pormenores que até ajudaram a colocar o povo em sintonia com William, fazendo recordar o menino de ar tristíssimo que acompanhou o cortejo da mãe morta atrás da coroa de flores que, em cima do seu caixão, dizia "Mummy", escrito à mão